quinta-feira, 28 de setembro de 2017

NOITE DE SÃO SEBASTIÃO

Massacre de São Bartolomeu, de François Dubois
Na década de setenta, eu bem jovenzinho, cheguei a imaginar imagens de tanques apontando para as favelas de modo ficcional, no sentido político de tentar abafar uma ação revolucionária dos pobres favelados contra os ricos donos do poder financeiro, econômico e político deste ainda obscuro país. Mas o que se vê é a soldadeira nada solidária composta na sua maioria por filhos do povo pilhado, filhos que sabem perfeitamente que estão traindo suas próprias raízes em nome de uma ética militarista desumana que colabora para preservar a arrogância das classes dominantes. Muitos desses soldados são negros sabedores do erro que estão cometendo em nome de uma pátria desamada, desarmada, explorada pelos desalmados. Quando esses jovens tomarem consciência de preservação do que é justo, deixarão suas vagas de soldados para a filharada dos ricos opressores. O que acontece na Rocinha, no Alemão, no Jacarezinho, em Manguinhos, no Rio de Janeiro, no Maranhão, em Recife, São Paulo, Amazonas, enfim, no Brasil inteiro, reflete toda uma realidade de desgovernos que demanda mais de cinco séculos. Digo mais de cinco séculos devido a herança de um estado português falido, deixado aqui gerando todo um processo antidesenvolvimentista que acaba proporcionando tudo de mal, dando desrespeitosos pontapés nas nossas portas em nome de uma lei pífia feita apenas para o deleite dos brancos ricos donos deste gigante adormecido Brasil. Mas acredito que uma verdadeira Revolução Popular está mais próximo do que nunca, pois insatisfações, indignações, abusos em nome de leis de exceções, tudo isso um dia transborda em revolta, numa espécie de Noite de São Bartolomeu, como se sucedeu na França do final do século XVI, evidentemente guardando as proporções históricas, no nosso caso seria tipo "Noite de São Sebastião".

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